Em longa carta de despedida, presidente do Goiás entrega cargo, faz balanço da gestão e assume ‘fracasso’ desta temporada: “dentro de campo, as coisas não caminharam bem”

Agora, com a aprovação do novo estatuto, o clube esmeraldino terá um CEO

Por: Danyela Freitas 05/12/2023 08:37

Falando menos de um mês para terminar o mandato, Paulo Rogério Pinheiro se despediu da presidência executiva do Goiás Esporte Clube. A saber, após a aprovação do novo estatuto, a partir de 2024, o clube deixa de ter um presidente para ter um CEO. Dessa forma, em longa carta enviada aos conselheiros do Esmeraldino, o dirigente se despediu e fez um balanço de sua gestão.

Além disso, o presidente do Goiás lamentou ‘fracasso’ quanto ao time de futebol profissional da atual temporada. Entretanto, exaltou o crescimento do clube fora das quatro linhas. Por fim, o dirigente também citou o superávit histórico do Esmeraldino. Confira a carta escrita por Paulo Rogério Pinheiro!

>>> Entre no nosso grupo de WhatsApp e saiba tudo sobre o Esmeraldino <<<

Presidente do Goiás se despede em carta e faz balanço de sua gestão

“ Conselheiros, associados e amigos esmeraldinos,

Encerro neste dia 1 de dezembro o mandato de Presidente Executivo do Goiás Esporte Clube com o registro e publicação do novo estatuto do Clube, conforme disposto nas regras transitórias toda diretoria executiva passa não mais existir. Amigos, assumi essa árdua missão de presidir o nosso Clube em janeiro de 2021 no meio de uma pandemia, por motivos que muitos desconhecem.

Jamais, jamais mesmo, desejei estar nessa posição, mas, com a responsabilidade de reerguer o clube naquele momento tão delicado, fui convencido por algumas pessoas próximas a assumir e reerguer o Goiás em memória à história de Hailé Pinheiro, que, já naquele momento, sua saúde dava sérios sinais de preocupação.

Poucos ainda lembram, mas assumi o Goiás Esporte Clube completamente endividado, mais de R$ 60 milhões vencidos, salários, 13º, férias e tributos atrasados. Nas contas bancárias, tínhamos míseros R$ 6 mil. Dezenas de processos trabalhistas e cíveis, alguns desses, ultrapassavam a casa dos R$ 40 milhões a serem pagos se perdêssemos a demanda, diversas autuações e multas por parte do Governo Federal e municipal, inúmeros problemas administrativos, quadro de funcionários inchado, ineficiente e com altos salários.

Além disso, com um grande agravante: seria a primeira vez do Goiás na Série B com receita de Série B. O cenário era de terra arrasada. Um caos.

Entrei para dentro do Clube no dia 3 de janeiro de 2021, sozinho, com pouquíssimos, mas fiéis, parceiros. E assim terminei o meu mandato: sozinho ao lado dessas mesmas pessoas, bem diferente do final de 2022 até início de outubro de 2023. Melhor assim.

Com pouco dinheiro e muita união de um pequeno grupo, no ano de 2021, implementamos um novo modelo de gestão, bem austero, com reformas internas importantes e necessárias, fomos cirúrgicos no futebol, principalmente nas contratações, fazendo uso de informações com inteligência e uma metodologia que se mostrou altamente eficiente, na qual ninguém decidia nada sozinho. Por fim, mesmo com uma das menores folhas salariais, conquistamos o vice-campeonato em 2021.

O caminho para o reerguimento futebolístico do clube parecia estar traçado: união, planejamento e inteligência. Simples e eficiente. Com isso, colhemos frutos no campeonato seguinte. No entanto, de um ano para o outro, esses conceitos foram se perdendo, primeiro um pouco, depois um muito. É curioso como o futebol e a política, por muitas vezes, têm essa capacidade, infeliz, de fazer prevalecer o individualismo e o egocentrismo, o “EU”. Freud explica isso!

Poucos são aqueles que estão preparados para dividir glórias, e muito menos para assumir fracassos. Isso, garanto a todos, passou longe de mim. Nestes três anos, não deixei a vaidade tomar conta de mim.

Continuei sendo o Paulo Rogério de sempre! Eu assumo o fracasso no futebol em 2023, já que eu era o presidente executivo. Portanto, eu sou o único responsável. Contudo, será então que o sucesso de 2021 e 2022 foi só meu? Viu como são as coisas no futebol? Nas glórias, muitos aparecem, já nos fracassos, não. Não me importo em assumir sozinho tudo de errado e dividir as glórias.

Paciência! O importante foi o carinho que recebi hoje, de todos colaboradores do Goiás, pois dei dignidade a eles. Nunca, em nenhum mês desde que assumi, atrasei uma folha ou tributo. Além disso, nunca deixei de dar um bom dia e um muito obrigado a cada um deles. Aqui, cabe contar um fato que marcou a mim na minha gestão e me deu muita força para seguir. Em resumo, era início do mês de dezembro de 2022, cheguei mais cedo que o de costume na sala da presidência no clube. A colaboradora que sempre arrumava a sala para os presidentes ainda estava lá dentro arrumando a minha bagunça do dia anterior. Sentei no sofá a espera do término e fui tomar o café da manhã. Assim, ofereci café e pão de queijo a ela, e ela constrangida pelo fato da sala não estar pronta não aceitou.

Em seguida, terminada a limpeza, ela se dirigiu até mim e me perguntou se poderia me dar um abraço. Fiquei parado sem saber o motivo. Me levantei, a abracei e perguntei: qual o motivo do abraço e das lágrimas no rosto? Ela respondeu: ‘queria muito te agradecer. Essas lágrimas são de felicidade. Este ano, eu e minha família teremos um natal em casa. Já recebi meu 13º e meu salário. Nunca mais tive que pegar dinheiro emprestado para pagar as contas, porque, antigamente, não podia fazer conta do meu salário e sempre admirei a sua educação com todos aqui no Goiás’. Ali me desabei…. porém, de alegria.

Se dentro de campo, no futebol profissional, as coisas não caminharam bem em 2023, fora dele, conseguimos conquistas e avançar em todos os setores do clube: administrativo, financeiro, jurídico, marketing, esportes olímpicos, escolinha e, principalmente, no futebol de base.

Em 2022, reformulamos completamente o departamento de base e, com profissionais realmente qualificados, retomamos a nossa força e hegemonia em todas as categorias estaduais e regionais, além de termos tido destaque nacional no principal campeonato, a Copinha, em 2023.

Além disso, voltaremos muito em breve, finalmente, a ter o certificado de Clube Formador da CBF. A saber, em janeiro de 2024, o clube irá inaugurar as novas e modernas instalações de futebol da base. Com isso, investimos mais de R$ 1 milhão só nos novos prédios e vestiários. Era uma vergonha o estado em que se encontravam os prédios do departamento. Agora, precisamos que os diretores de futebol coloquem as jovens promessas para jogar. Não adianta formar e não utilizar.

Ademais, fortalecemos a marca do clube e resgatando a credibilidade, batemos todos os recordes na captação de patrocínios para o Goiás Esporte Clube neste triênio. Sem contar o expressivo crescimento de audiência, engajamento e alcance da nossa marca nas plataformas digitais. Saímos da posição 41 em engajamento e chegamos a 14ª posição.

Entregaremos o clube com o maior superávit financeiro de sua história, sem vendermos nenhum atleta, não fizemos nenhum adiantamento nestes três anos e com um aumento de receita em mais de 250% e a redução das despesas em mais de 40%.

Deixo o clube, portanto, seguramente preparado para enfrentar os desafios dos próximos anos. Pela primeira vez, o Goiás deu transparência de seus gastos/receitas e decisões através do portal transparência em nosso site. De todos os 20 clubes da Série A deste ano, apenas o Esmeraldino publica seus balanços mensalmente, já auditado por uma das maiores empresas do mundo na área e aprovado pelo conselho fiscal.

Para finalizar, sem nominar, gostaria de agradecer a todos que estiveram ‘verdadeiramente’ comigo durante esse triênio. Aos conselheiros que me elegeram, meu muito obrigado pela confiança depositada. Minhas sinceras desculpas se não alcançamos o objetivo no futebol que traçamos em 2023. Quem sabe nesse novo formato de estatuto, a tão almejada profissionalização ocorra. Me desligo do Goiás definitivamente nesta data, não mais terei qualquer tipo de cargo ou envolvimento. Assim, após a aprovação de minhas contas ano que vem, decidirei o meu futuro como associado.

Saio triste, machucado, com algumas mágoas e com muito joio separado do trigo, mas com o dever cumprido. Agora vou poder me defender de várias acusações levianas e das ameaças sofridas por pessoas que não merecem o mínimo respeito. Terei tempo e advogados de sobra para isso! E já que eu era o Presidente Executivo, assumo de peito aberto tudo de errado que possa ter acontecido em 2023, mas quem sabe um dia esta história possa vir a ser contada diferente.

Muito obrigado a todos. Feliz Natal e um 2024 cheio de vitórias, alegrias, saúde e paz.”